quarta-feira, 16 de outubro de 2013

PELA GRAÇA RECEBEMOS EM NOSSA ALMA A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO

(continuação de trechos de Matthias Joseph Scheeben :retiradas do seu magnífico livro intitulado "As Maravilhas da Graça Divina")       


Estudando no Livro Primeiro a essência da graça santificante, vimos ser ela uma qualidade de nossa natureza, qualidade grandiosa, sobrenatural, comunicada por Deus, qualidade que nos faz participar da natureza divina e de suas propriedades.

        Na linguagem da Sagrada Escritura e dos Padres, é o Espírito Santo ordinariamente caracterizado como a Pessoa Divina, com a qual, mediante a graça, de modos especial entramos em contacto, Terceira Pessoa da divindade, acha-se, por assim dizer, mais próximo de nós, pois a ela se atribui, em primeiro lugar, e especialmente, a união de Deus com a criatura e da criatura com Deus. É ele, além disto, o representante pessoal do amor divino, de onde procede. Em virtude deste amor se opera a união de Deus; por outro lado, consiste, nesta vida, nossa união com Deus principalmente no amor que lhe consagramos. É aqui a Santíssima Trindade, sem dúvida alguma, representada pelo Espírito Santo.

        Dizemos que o Espírito Santo vem a nós com a graça, dá-se-nos na graça, e pela graça permanece realmente em nós, de modo infável.(S.Tomás, I, q 38, a. 1; q. 43,a.3).

        Segundo o Apóstolo, o Espírito de Deus transforma-nos por sua virtude em imagens de Deus. E não o faz, à semelhança do sol, que, de longe, mediante seus raios, muda o globo em sua imagem, pois é ele Deus, devendo, portanto, estar presente onde opera. Ilumina nossa alma, semelhantemente a uma luz que se encontrasse no interior de uma lanterna, à imitação de um fogo que penetra totalmente um corpo e o torna incandescente. É como que o selo com que Deus imprime em nossa alma a imagem de sua natureza e de sua santidade. O selo imprime na cera sua forma, mas para tanto é necessário o contacto intimo com ela; não pode o Espírito Santo dar-nos sua graça aem que nos dê a si mesmo. Como diz o Apóstolo: A caridade de Deus (seu maior dom com a graça) foi derramado em nossos corações peloEspírito Santo que se deu a nós.

        Assim como deve o Espírito santo vir a nós, para trazer-nos a graça, do mesmo modo, inversamente, porém, a graça nos conduz ao Espírito Santo, une-nos a ele. Nela e por ela possuimos o Espírito Santo.

       "Pela graça santificante - diz S. Tomás - está a cristura perfeita para gozar livremente não só dos bens criados, mas ainda do Bem incriado; por esta razão, a missão invisível do Espírito Santo efetua-se no dom da graça santificante; não obstante isso, dá-se-nos a própria pessoa divina".

       Não querem estas palavras se S. Tomás dizer que a graça nos torna aptos a gozar do Espírito Santo de um modo qualquer, pelo conhecimento e pelo amor, como com outros objetos que não nos pertencem, que não nos são inerentes. Significam elas que possuimos o Espírito Santo e dele gozamos como de alguma coisa não apenas vista mas utilizada, não simplesmente amada, mas apertada contra o coração! Talvez melhor expressa a profundidade deste mistério a formula seguinte: a graça não somente nos torna aptos a conhecer, amar a Deus e dele gozar, através da formosura e da bondade da criatura, permacendo ele distante, mas ainda faz-nos possuí-lo intimamente, em si próprio, em sua substância. Em outras palavas: a substância divina não só é objeto de nosso gozo, como  também está presente em nós, de moso real e intimo.

       Ensinam unânimamente os teólogos ser, na outra vida, a visão imediata de Deus inconcebivel sem a presença real e intimíssima de Deus em nossa alma. Tão pouco podemos amar a Deus nesta vida, de modo sobrenatural, sem estar presente, de maneira mais intima, o objeto do nosso amor. Deus, objeto de visão beatífica, é também o verdadeiro alimento de nossa alma (veja-se os capitulos VI e XII deste livro); a ela une-se tão estreitamente como o alimento ao corpo. Do mesmo modo, o amor sobrenatural de Deus é já um verdadeiro abraço espiritual, peloqual o temos e guardamos  nas profundezas de nossa alma.

       A graça une-nos, portanto, ao Espírito santo, de dois modos e por um duplo motivo:em primeiro lugar vem a nós o Espírito Santo, como autor da graça e juntamente com ela; depois, a graça leva-nos e une-nos a ele. E o Espírito Santo  aproxim-se de nós, de forma inegávelmente intima, para comunicar-nos a graça e a caridade, participação da natureza e da santidade divinas, efusão do seio da divindade. Do mesmo modo, pela graça aproximamo-nos dele, de uma maneira maravilhosa; em seu caráter de participação da natureza divina, põe-nos a graça  na posse e no gozo imediatos da natureza e das pessoas divinas.

       O Espírito Santo - e Deus de um modo geral - está persente nas coisas naturais, não só por sua atividade, como também porque opera por sua própia presença. Tratando-se da graça, sua presença torna-se incomparavelmente mais íntima e de natureza distinta. Nas criaturas ordinárias, acha-se presente como criador; sem ele não poderiam ela existir; nas outras, porem, enriquecidas pela graça, encontra-se presente como santificador, que a elas se dá e lhes abre as profundezas de sua própria vida; está nelas como Deus Pai em seu Primogênito. O Pai está no Filho por lhe comunicar substancialmente sua natureza; o Espírito Santo está em nós, porque mediante sua graça nos comunica a partcipação da natureza divina. A diferença existente entre a presença do Padre eterno em seu Filho e em suas criaturas, é a mesma  que se dá  entre a presença do Espírito Santo na alma regenerada e nas simples criaturas. Por mais que esteja o Espírito Santo presente em todas as criaturas, por mais que habita como em um imenso templo em toda a natureza criada, realizando  a palavra da Escritura:  O espírito do Senhor encheu o universo, reside, não obstante, de modo todo especial, na alma adornada pela graça. Tanto é verdade, que um grande teólogo não vacila em afirmar, que, ainda quando devesse Deus deixar de estar presente nas outras criaturas, nem por isso deixaria de habitar nas que  se acham em graça, como também não se separaria, por isto, da humanidade de Cristo, unida com ele em uma só pessoa (Suúrez. De Trinit., I. XII, p.5). Comparada com a alma regenerada, não pode a criação chamar-se templo de Deus e se tal nome lhe dermos, será a alma o altar. Diremos entretanto mais claramente ainda com a Sagrada Escritura: a criação natural é o escabelo de Deus; só lhe consegue tocar a limbria do vestido. Ao contrário, a alma do justo é o trono de Deus, cheia de sua glória divina. Acrescentarei ainda que o Espírito lhe está presente de modo tão íntimo como a alma ao coração por ela animado  e vivificado.

      Está presença perdura em nossas almas, enquanto conservamos a graça. não nos vem o Espírito Santo, de passagem, como um hóspede, para permanecer algum tempo conosco, e retirar-se logo. O Salvador rogou o Pai, pedindo-lhe nos enviasse o Consolador, O Espírito de Verdade, para ficar eternamente  conosco. Hóspede de tão alta categoria, fixa ele sua residência entre nós, disposto a não nos abandonar; ir-se-á embora unicamente se o lançamos fora de nosso coração.

     Maravilhosa grandeza da graça que faz entrar em nossa alma hóspede tão insigne, tão suave, tão santo, a ele unindo-nos, tão íntima e inseparàvelmente! Se Zacarias se alegrava pela felicidade de ter tido, por um momento, em sua casa, o Filho de Deus humanado, quão mais felizes nos devemos sentir com a visita do Espírito Santo que, com sua divindade, vem, já  não à nossa casa, e, sim, ao mais intimo de nosso coração! Considerem-se outros ditosos e honrados com a visita de um rei terreno; quanto a nós, com a presença do espírito Santo, suportaremos contentes qualquer injúria e desonra provindas dos homens, com a condição de sempre conservarmos em nossos corações a graça divina. Se pelo nome de Cristo fordes desprezados - diz o príncipe dos Apóstolos - deveis considerar-vos felizes, porque o Espírito de glória ( e de poder). o Espírito de Deus, repousa em vós. Oporemos uma santa valentia a todos os altrajes e a todas as zombarias com que nos cubra o mundo, convictos de que ninguém poderá expulsar, de nossas almas, hóspede tão nobre.

     (continua...)

    

 

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