terça-feira, 8 de outubro de 2013

A GRAÇA COMO PARTICIPAÇÃO DO CONHECIMENTO  DIVINO, ELEVA O HOMEM À VISÃO IMEDIATA DA GLÓRIA DE DEUS.


(continuação de trechos  de  Matthias Joseph Scheeben :retiradas  do seu magnífico livro intitulado                                                          "As Maravilhas da Graça Divina")


     
        Para poderes, ó cristão, fazer desde agora uma ideia da glória e da felicidade produzida pela graça, quero mostrá-la em toda a sua grandeza, naquele instante em que sua luz cede o lugar à luz da glória. Compreenderás então como, por ela, participas de modo real e perfeito da natureza divina.

       Reconhece-se cada natureza por uma virtude e atividade específica. As plantas diferenciam-se dos animais por seu crescimento, suas flores e frutos; os animais distingam-se das plantas por seus sentidos e sua locomoção; e o homem difere dos animais por sua razão e sua liberdade.

        O homem, por sua razão, é, de certo modo, semelhante a Deus; uma distancia infinita medeia, contudo, entre a natureza divina e a natureza humana. Por isto, a inteligência dos homens e dos anjos só pode conhecer as criaturas, os seres finitos, criados; é incapaz de contemplar face a face o Deus infinito. As criaturas racionais podem conhecer a seu Criador e senhor, porem, apenas à distancia:  cada um o contempla de longe (Job 36, 25). Mais distante se acha da criatura a majestade de Deus, do que o sol, da terra. A criatura vê apenas a orla da sua veste, o reflexo da sua glória na maravilhosa grandeza da criação. Segundo a palavra do Apóstolo, Deus, Rei invisível dos séculos, a quem homem algum jamais viu nem pode ver, habita em uma luz inacessível (1 Tim 6, 16).

        É esta por demais resplandecente, e sua glória, excessivamente grande, para que possa a criatura, sem cegar-se, fixar sobre ela seu fraco olhar. Eis por que os mesmos querubins velam diante dele a face e se prostram no pó da terra para adorá-lo. Somente Deus, por sua natureza, pode conhecer-se a si mesmo; só o Primogénito que repousa no seio do Pai (Jo 1, 18), o vê face a face; só o Espírito santo que está em Deus, penetra e sonda sua natureza íntima, do mesmo modo que só o espírito de um homem conhece a este homem (1 Cor 2,11). Para ver a Deus, ou cumpre ser Deus, ou participar de sua natureza divina.

        Se queres ver a Deus face a face, importa que o olho de tua alma se torne como que divino. Deve cair o véu que o cobre; há-de iluminá-lo, transformá-lo a luz do sol divino; somente assim poderás fixar em Deus o olhar firme e seguro. Isto se produz em nós pelo Espírito do mesmo Deus, quando, pela graça, nos faz participantes da natureza divina. Em esplêndidos termos no-lo diz o Apóstolo: "descoberta a face, transformo-nos na imagem perfeita de Deus, quando , como pelo Espírito do Senhor, avançamos de claridade em claridade" (2 Cor 3, 18). E S. João fala por sua vez: "Seremos semelhantes a Deus, quando o vimos tal qual é" (1 Jo 3, 2). O próprio Filho de Deus diz a seu Pai: "Pai, a glória que me deste, a mesma que eu tenho junto de ti desde o começo do mundo, eu a dei a eles" (Jo 17, 5 e 22).

       No céu conheceremos a Deus como ele próprio se conhece. Então conhecerei como eu mesmo me conheço, diz o Apóstolo (1 Cor 13, 12).

       É absolutamente impossível termos um conhecimento só próprio da natureza divina, sem participarmos verdadeiramente desta natureza divina, sem participarmos verdadeiramente desta natureza divina. Na palavra de um doutor da Igreja (Dionísio Areopagita), não pode competir-nos a visão de Deus senão sob a condição de sermos divinizados. E se participamos verdadeiramente da natureza divina e nos divinizamos, isto se manifestará pela participação no conhecimento de Deus.

(continua...)

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