segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O seu reino é indivisível e eterno



«Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode perdurar.» Uma vez que diziam que Ele expulsava os demónios por Belzebu, príncipe dos demónios, Jesus quis mostrar, com esta palavra, que o seu reino é indivisível e eterno. Com razão respondeu a Pilatos: «O meu reino não é deste mundo» (Jo 18,36). Portanto, os que não põem a sua esperança em Cristo, mas pensam que os demónios são expulsos pelo príncipe dos demónios, esses, diz Jesus, não pertencem a um reino eterno. […] Quando a fé se rasga, o reino dividido não pode manter-se. [...] Se o reino da Igreja vai durar eternamente é porque a sua fé não está dividida e o seu corpo é um só: «há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos» (Ef 4,5-6). 


Que loucura sacrílega! O Filho de Deus encarnou para esmagar os espíritos impuros, arrancar o espólio ao príncipe do mundo e dar aos homens o poder de destruir o espírito do mal (cf Lc 10,19), […] e eis que alguns pedem auxílio ao poder do demónio. No entanto, como diz Lucas, é pelo «dedo de Deus» (11,20) ou, como diz Mateus, pelo «Espírito de Deus» (12,28) que Jesus expulsa os demónios. Por aí entendemos que o Reino de Deus é indivisível, tal como um corpo é indivisível, uma vez que Cristo está à direita de Deus e o Espírito parece ser comparável ao seu dedo. […] «Porque é nele que habita realmente toda a plenitude da divindade» (Col 2,9).


Comentário do dia Santo Ambrósio (c. 340-397)
Bispo de Milão, Doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de Lucas, 7, 91-92; SC 52

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

              Sobre a Obediência


Enquanto sob o ponto de vista humano, a obediência pode parecer uma coisa muito discreta, muito prosaica, contida em ordens como estas: "Faz isto!" ou "Não faças aquilo!", a Sagrada Escritura porém revela-nos que a sua origem é muito mais nobre. Pela desobediência de Adão perdeu-se a amizade com Deus. A partir de então, a obediência costuma apresentar-se com um traje de trabalho visto que o homem comerá o seu pão, fruto de um trabalho duro, e com a fadiga do seu rosto. A obediência de Cristo, o novo Adão, redimiu-nos e restaurou a amizade com Deus! Ele, o Servo de Deus, o Filho do Pai Eterno, impregnou a obediência de amor. Esta é a feliz sorte da criança e do amante: "O teu desejo é uma ordem para mim!" Em relação a Deus, a obediência torna-se mesmo uma bem-aventurança para aqueles que têm sede da justiça, porque serão saciados (cf Mat 5,6).
Como virtude, a obediência faz parte da virtude cardeal da justiça, que faz com que tenhamos uma vontade permanente e constante de dar a cada um o que se lhe deve (cf. Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino. II-II, 58,1c). Nós fomos 'justificados' pela obediência de Cristo, porque a Sua graça nos dá a possibilidade de dar a Deus, de maneira digna, aquilo que Lhe devemos: fé, veneração e obediência. "Ao Deus que revela é devida a 'obediência da fé' (Rom 16, 26; cf. Rom 1,5; 2Cor 10,5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus" (Constituição Dogmática Dei Verbum, cap.1,5).
Pelo abandono, o acto principal da virtude da religião, prestamos prontamente a Deus a reverência e a honra que o Seu Nome merece. Pela santa obediência submetemo-nos à Sua majestade e autoridade, isto é: às Suas leis, dadas directamente por Ele ou por aqueles que exercem a autoridade em Seu Nome, seja na Igreja ou na sociedade.
É significativo que a nossa submissão obediente à vontade de Deus seja a garantia de que o nosso culto é puro e santo. Saul foi reprovado por não ter cumprido as ordens de Deus: "Porventura, o Senhor compraz-Se tanto nos holocaustos e sacrifícios como na obediência à Sua palavra? A obediência vale mais que os sacrifícios, e a submissão vale mais do que a gordura dos carneiros. A desobediência é tão culpável como a superstição, e a insubmissão é como o pecado da idolatria" (1Sam 15,22-23). É por isso que São Tomás de Aquino classifica a 'piedosa vontade própria' entre as faltas muito graves, porque, sob a aparência do culto divino e da obediência, ela faz exactamente o contrário.
No sentido lato da palavra, a obediência é uma virtude ou qualidade geral da vida moral, visto que cada obra boa corresponde a uma lei, e cada pecado de alguma maneira se opõe a uma lei. Segundo as palavras de Cristo, a obediência está estreitamente ligada ao amor: "Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor" (Jo 15,10). É impossível amarmos Deus se não respeitamos a Sua autoridade e não nos submetemos aos Seus mandamentos.
Nesta carta circular consideramos a obediência no aspecto de serviço e como a obediência filial de Cristo. A obediência não só cumpre a tarefa, mas prepara-nos também para a união com Deus. Se em Cristo, o Redentor, a caridade teve o primeiro lugar, logo lhe seguiu a obediência.

RESUMO DA OBEDIÊNCIA NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO
Se é verdade que a obediência é algo de funcional e prático, é também verdade que a obediência puramente funcional é imperfeita; de modo algum atinge o ideal de Cristo, cuja obediência respeitosa foi sempre animada pelo amor. A obediência não se limita a fins exteriores; como virtude está orientada para a ordem recta.
No princípio, os Anjos foram provados na obediência; os espíritos caídos revoltaram-se contra a divina economia da salvação, dentro da qual foram chamados a servir: "Desde há muito quebraste o teu jugo, rompeste os teus laços. Disseste: 'Não servirei!" (Jer 2,20).
Também Adão e Eva tiveram de passar por uma provação semelhante, embora mais simples, e a sua dócil submissão à autoridade divina ter-lhes-ia obtido, a eles e a nós, dons muito grandes. Como foi insondável a sua queda! Santo Agostinho disse o seguinte: "Tratava-se antes de tudo da obediência que lhes foi recomendada, e na criatura racional é esta virtude de algum modo a mãe e a protectora de todas as demais virtudes; a criatura é feita de tal maneira que ser dócil lhe é útil, enquanto lhe é nocivo fazer a própria vontade, rejeitando a Vontade d'Aquele que a criou. Porque o preceito de renunciar a uma só coisa era fácil de observar, a injustiça em cometer a sua infracção foi maior" (Cidade de Deus XIV,12).
Depressa se cai e dificilmente se levanta! Sem recuperar o respeito recto diante da autoridade divina, o homem não podia reaver a amizade com Deus. Assim a sua redenção tinha necessidade de uma longa e difícil preparação através de uma série de alianças concluídas por Deus com os Seus servos eleitos. O fundamento delas foi sempre a fé e a obediência. O primeiro que achou graça diante de Deus foi Noé, que então pôde salvar-se do dilúvio a si próprio, à sua família e à humanidade, porque em obediência a Deus construiu a arca de madeira, símbolo da Cruz de Cristo. (cf 1Ped 3,20; Gn 6,8.14ss).

Abraão: "Porque obedeceste à Minha voz!"
De modo semelhante, Deus ordenou a Abraão: "Anda na Minha presença [em obediência] e sê perfeito! Quero fazer uma aliança contigo e multiplicarei a tua descendência até ao infinito. ... serás pai de inúmeros povos!" (Gn 17,1-2.4). Chegada depois a hora em que Abraão devia ser novamente posto à prova, DEUS exigiu-lhe o sacrifício do seu muito amado filho Isaac. Quando Abraão, com fé pura e obediência santa, mostrou que estava pronto para o fazer, o Anjo do Senhor deteve a sua mão e declarou: "Sei agora que, na verdade, temes a Deus, visto não me teres recusado o teu único filho. Abençoar-te-ei ..... porque obedeceste à Minha voz!" (Gn 22,12.17-18). Deus poupou o filho de Abraão; o Seu próprio Filho, porém, não O poupou, mas entregou-O para nossa salvação, o obediente pelos desobedientes (cf Rom 4,25; 5,9).

Moisés: o mediador que transmitiu a Lei
Para melhor educar os homens na reverência, preparando-os assim para o cumprimento da promessa, Deus enviou Moisés como instrutor da Lei. Com que grande sabedoria ensinou ele Israel a aceitar a Lei: "Vede, proponho-vos hoje a bênção ou a maldição: a bênção quando obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos prescrevo; e a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus" (Dt 11,26-28).
A história da salvação ensina-nos o seguinte: o temor de Deus prepara ao servo o caminho da entrega filial e amorosa: "Um filho ama o pai; um servo teme o seu senhor. Se Eu, pois, sou pai, onde está a honra que Me é devida? Se Eu sou senhor, onde está o respeito que se Me deve?" (Mal 1,6).

OBEDIÊNCIA SOCIAL E FILIAL
Encontramos na Sagrada Escritura dois tipos de obediência. Primeiro, a obediência social que é necessária para o bem-estar e o bom funcionamento tanto da sociedade como do indivíduo. É uma obediência natural, mas que também passa para a ordem da graça e da revelação. Segundo, a obediência filial que em Cristo toma o carácter de revelação. Esta Sua obediência convida-nos a viver a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Há característicos diferentes que permitem distinguir a obediência funcional da obediência filial.

A obediência social
A obediência social tende para o funcionalismo. Trata-se de um trabalho que deve ser feito. Existe aqui uma certa ligação utilitária que, por natureza, é hierárquica, mais ou menos como a que há entre a vontade e a mão. Todas as criaturas são instrumentos nas mãos de Deus e servem os planos da Sua Providência. "Assim como os olhos dos servos se fixam na mão dos seus senhores ... assim também os nossos olhos estão postos no Senhor, nosso Deus!" (Sl 122,2).

Os diversos tipos de obediência social
Além da estima e do respeito que devemos aos nossos pais (cf Ef 6,1), devemos obediência a toda e qualquer autoridade legítima nos assuntos que lhe pertencem tratar: os servos obedeçam aos seus senhores "na simplicidade do coração, como a Cristo" (Ef 6,5). Os esposos submetam-se mutuamente "no temor de Cristo" (5,21) e especialmente as mulheres devem submeter-se em tudo "aos seus maridos como a Cristo" (5,22).
A autoridade civil, por ter recebido o seu poder de Deus, tem direito de dar ordens: "Sede, pois, submissos ... ao rei como soberano, e aos governadores, ... porque é da vontade de Deus. ... Respeitai o rei" (1Ped 2,13.15.17). Foi por isso que Jesus Se submeteu à autoridade de Pilatos, a quem replicou: "Nenhum poder terias sobre Mim se do Alto não te fosse dado" (Jo 19,11).

Os graus da obediência social
A obediência social tem muitos graus, o mais baixo dos quais é inspirado por mero receio; por isso não é uma virtude. O servilismo é aquela submissão à lei que é puramente exterior, que se presta para obter alguma vantagem temporal: 'obedece-se' para evitar o castigo, a vergonha ou a perda de qualquer coisa terrena. Se o poder civil não pudesse punir os crimes, se os pecados ficassem sem castigo, as pessoas que se limitam a uma obediência servil, não fariam caso da autoridade e seguiriam em tudo a própria vontade.
Embora tal obediência não seja de modo algum salutar, ainda é útil para a sociedade e para aquele que a pratica. Garante na sociedade a paz e a ordem recta, e se o pecador deixa de pecar por medo do castigo, o pecado não penetra tão profundamente na sua alma, o que faz com que haja mais possibilidade de se emendar.
A obediência imperfeita, que é o princípio da virtude, está também radicada no medo, mas esse medo é já determinado por consequências sobrenaturais. Obedece-se para não perder a recompensa celeste e evitar o castigo eterno. Tal como a contrição imperfeita e o medo servil, a obediência imperfeita não atinge o cume da perfeição, mas ajuda a alma a preparar-se para isso. Podemos aplicar a este grau da obediência, ainda imperfeita, as palavras que São Francisco de Sales disse da contrição imperfeita: "Assim como o desejo do paraíso é muito louvável, assim também o medo de o perder é um medo excelente! ... A fé e a religião cristã ensinam-nos estes motivos e por isso a contrição [obediência] que daí resulta, embora imperfeita, é muito louvável" (Tratado do Amor Divino, II. cap 19-19). Ainda que um dia alcancemos uma contrição [obediência] perfeita, não deixaremos de parte esses motivos dos quais nasceu a contrição [obediência] imperfeita; um amor perfeito a Deus não nos dispensa de fazer actos de esperança (Ibid II. cap 17).
Sob ponto de vista funcional, a obediência social é uma coisa bem regulada, tal como num justo contrato de trabalho ou como no serviço militar. As relações verticais são fixas e claramente delineadas. Trata-se de fazer alguma coisa, e receber algo em troca.

Respeito pela autoridade
Não é preciso pôr de parte a esperança da recompensa nem o medo do castigo; no entanto, o motivo formal da obediência sobrenatural é o respeito diante da majestade e autoridade de Deus e diante das pessoas cuja autoridade deriva dela.
A culpa formal da desobediência consiste precisamente na falta de respeito, no desprezo da autoridade, razão por que São Tomás de Aquino classifica a desobediência entre os pecados mortais. Mas acrescenta que quase sempre se limita a uma desobediência material (cf Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino II-II, 105). O que é que se entende aqui por 'formal' e 'material'? Se o motivo pelo qual o pecador transgride um mandamento, se revela claramente como o desejo de um outro bem, chamamos a isto 'obediência material'. Não é um pecado mortal contra a obediência, embora possa sê-lo contra outra virtude. Os adúlteros, p.ex. cometem um pecado grave contra o sexto mandamento, mas não contra a obediência.
Porém, a obediência cuja intenção é expressar revolta e desprezo da autoridade, chama-se 'desobediência formal' e é pecado grave. Quando os espíritos infiéis se revoltaram contra Deus, não pensavam encontrar a felicidade fora da vontade divina; a sua 'felicidade' consistia unicamente em lançar contra Deus todo o seu desprezo pelas palavras "Não servirei!".
Também acontece, até com frequência, que alguém se submete e 'obedece' exteriormente (materialmente), mas no seu interior critica e despreza os superiores. É claro que, por isso mesmo, peca formalmente contra a obediência. E quantas vezes acontece que não se arrepende nem confessa tal pecado tão funesto! Sem humildade é difícil evitar este erro, porque só a humildade nos dispõe a ter respeito para com os superiores.
É este respeito humilde, que dá asas à obediência, que deve animar todos os membros da Obra dos Santos Anjos.

A OBEDIÊNCIA FILIAL
A obediência filial, que primeiramente é orientada para uma pessoa e não para um objecto, vai para além de si mesma à união no amor. "A obediência, praticada à imitação de Cristo cujo alimento era fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4,34) , manifesta a graça libertadora de uma dependência filial e não servil, rica de sentido de responsabilidade e animada pela confiança recíproca, que é reflexo, na história, da amorosa correspondência das três Pessoas divinas." (VC 21).
Lembremos a passagem do jovem rico; ele apenas estava interessado em fazer alguma 'coisa boa' com a obediência funcional, a fim de ganhar a vida eterna. Jesus elevou a conversa do nível de 'alguma coisa boa' ao do 'único bem': Deus. A vida eterna não é tanto uma coisa de que se toma posse, mas uma relação pessoal na qual se entra pela obediência e pelo amor reverentes. Porque ninguém pode ir ao Pai senão através do Filho, Cristo convidou o jovem rico a desprender-se dos bens que lhe estorvavam e a segui-l'O (obedecer-lhe), para assim, n'Ele e por Ele, ir ao Pai. O jovem rico afastou-se entristecido. Só tinha compreendido a obediência funcional (que produz algo de bom), mas não a obediência filial que, no amor mútuo, dá origem à união e à felicidade.
Isto não só se aplica ao jovem rico, mas também a muitas pessoas que exercem algum tipo de autoridade. Olham facilmente para o que os seus súbditos podem fazer, para que servem, esquecendo-se da sua verdadeira missão que é cultivar uma boa relação (paternal, maternal) com eles. Sem dúvida, este pensamento será criticado. Mas se o bem- estar do trabalhador primazia sobre o produto do seu trabalho (cf. João Paulo II,Encíclica sobre o trabalho do homem, 13), quanto mais a autoridade - que finalmente vem de Deus e se exerce em Nome do Pai - deve ter em vista o bem-estar pessoal dos súbditos!

NO FOCO: A FAMÍLIA CRISTÃ
A realidade integral da obediência encontra-se na família, onde a autoridade paterna, exercida em espírito de amor, suscita e nutre o respeito filial e confiante. Pela sua fecundidade, a obediência tanto contribui à união mais profunda da família como também ao bem-estar comum.
Pensemos na parábola do filho pródigo. Seduzido pelos prazeres deste mundo, o filho mais novo reclamou a sua herança. Quis romper a relação de dependência com o pai e foi para um país longínquo. Depois de ter desperdiçado toda a sua fortuna, lembrou-se da bondade do seu pai e regressou a casa, cheio de arrependimento e temor, onde então pediu que o pai o aceitasse como servo obediente. Mas o pai restituiu-lhe toda a dignidade de filho, restaurando assim a ordem santa.
O filho mais velho tinha, de facto, cumprido sempre as ordens do pai, mas apenas exteriormente. Também ele nunca tinha compreendido a relação filial amorosa e respeitosa que o pai tinha desejado. Disse-lhe o pai: "Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é meu é teu!" (Lc 15,31).
O Filho de Deus não só Se fez Homem para pagar as nossas dívidas, mas para nos reconduzir, cheios de reverência, aos braços misericordiosos do Pai: "Aquele que Me ama será amado por Meu Pai,... guardará a Minha palavra, ... viremos a ele e faremos nele morada" (Jo 14,21.23).

NO SEIO DO PAI
"Ninguém jamais viu a Deus" - Como conheceremos então o mistério do Seu amor? - João continua explicando-o: "O Filho único, que está no seio do Pai é que O deu a conhecer" (1,18). O amor e reverência mútuas entre as Pessoas da Santíssima Trindade são o modelo para a obra da Redenção, realizada pela Encarnação do Filho que diz: "Eu venho, Senhor, para fazer a Tua vontade!" Em Sua humanidade, Ele Se despoja voluntariamente e entrega a Sua vida em obediência, "para que o mundo saiba que Eu amo o Pai, que faço como o Pai Me mandou" (Jo 14,30).
O Pai ama Cristo por causa da Sua obediência de amor até à morte (cf. Jo 10,17). Porque o amor do Pai ao Filho já era infinito, este amor particular se refere aos méritos da Redenção que operou e pela qual alcançou também a glorificação eterna do Seu Corpo, tanto para Si próprio como para todos os membros do Corpo Místico que um dia ressuscitarão em Cristo. Lembremos que Ele pedira insistentemente ao Pai que nós pudéssemos estar com Ele na glória (cf. Jo 17,24).
Só palpando podemos compreender a grandeza do amor divino. Deus revela a Sua bondade pelo facto de nos ter criado. Enviando depois o Seu Filho a encarnar-Se e morrer por nós, o Pai revela um amor imensamente maior, mas não manifesta ainda a relação de amor que quer ter connosco.
Esta relação, Cristo revelou-o na instituição da Sagrada Eucaristia, a fim de unir-Se a nós na mais íntima das uniões. Pela eucaristia, Jesus nos faz participantes do abraço amoroso e eterno no qual Ele e o Pai são um só no Espírito: "...para que todos sejam um só; como Tu, ó Pai estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós!" (Jo 17,21).
Através da união corporal de Cristo connosco na Sagrada Comunhão, podemos compreender a verdadeira intenção divina: feitos um com Cristo, participamos mais perfeitamente da Sua relação filial com o Pai. Esta relação mútua, esta união íntima tem a ver com a obediência filial de Cristo. O caminho perfeito para alcançar isto é a Eucaristia na qual nos tornamos com Ele uma oferenda ao Pai.

A EXCELÊNCIA DOS CONSELHOS EVANGÉLICOS (Castidade, pobreza e obediência)
Se devemos amar a Lei divina: "Quanto amo, Senhor, a Vossa lei! Nela medito todo o dia" (Sl 119,97), quanto mais temos que amar os conselhos do Seu amor, cujo fim é fazer-nos alcançar a perfeição: "Se queres ser perfeito,... vem e segue-Me" (Mt 19,21).
"O mandamento supõe uma vontade absoluta e formal daquele que ordena, enquanto que o conselho apenas representa uma forma de desejo. O mandamento obriga, o conselho só indica. O mandamento torna culpados os transgressores; o conselho apenas faz menos dignos de louvor os que o não seguem. Quem viola os mandamentos incorre na culpa, ... negligencia os conselhos merece menos glória… Seguimos o conselho para agradar, o mandamento para não desagradar" (S. Francisco de Sales,Tratado do Amor de Deus, VIII Cap. 6).
Deus chama-nos a todos à perfeição (cf. Mt 5,48), mas nem todos são chamados à vida consagrada em castidade, pobreza e obediência. Mas todos, sim, são chamados a amar os conselhos evangélicos e seguir Cristo na medida da graça recebida (cf. Ef 4,7). "A obediência, praticada à imitação de Cristo, cujo alimento era fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4,34), manifesta a graça libertadora de uma dependência filial e não servil, rica de sentido de responsabilidade e animada pela confiança recíproca, que é reflexo, na história, da amorosa correspondência das três Pessoas divinas." (VC 3).
São Francisco de Sales diz: "Ora quando o nosso amor pela vontade divina é ardente, não nos contentaremos com satisfazer apenas à vontade de Deus, expressa nos mandamentos, mas alistamo-nos ainda sob a obediência dos Seus conselhos, que nos são dados para com mais perfeição observarmos os mandamentos" (Ibid, VIII Cap. 7), de modo particular do mandamento do amor.
"Assim os conselhos evangélicos são, primariamente, um dom da Santíssima Trindade. A vida consagrada é anúncio daquilo que o Pai, pelo Filho no Espírito, realiza com o seu amor, a sua bondade, a sua beleza." (VC 20).
Os conselhos evangélicos (castidade, pobreza e obediência) "são expressão do amor que o Filho nutre pelo Pai na unidade do Espírito Santo. Praticando-os, a pessoa consagrada vive, com particular intensidade, o carácter trinitário e cristológico que caracteriza toda a vida cristã." (VC 21).
"O Filho, caminho que conduz ao Pai (cf. Jo 14,6), chama todos aqueles que o Pai Lhe deu (cf. Jo 17,9) a um seguimento que dá orientação à sua existência. A alguns porém - concretamente às pessoas de vida consagrada -, Cristo pede uma adesão total... a sua forma de vida casta, pobre e obediente apresenta-se como a maneira mais radical de viver o Evangelho sobre esta terra, um modo - pode-se dizer - divino, porque abraçado por Ele, Homem-Deus, como expressão da sua relação de Filho Unigénito com o Pai e com o Espírito Santo." (VC 18).

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Um padre escreve ao Papa antes 

de morrer aos 31 anos.


"Não peço a Deus a minha cura, mas a força e a alegria de

continuar sendo um verdadeiro testemunho de Seu amor

e um sacerdote segundo o Seu coração".

Fabrizio nasceu em Nápoles (Itália), no dia 8 de setembro de 1982. Quase 3 mil pessoas se reuniram no bairro de Ponticelli para lhe dar adeus na igreja de Nossa Senhora das Neves, onde ele era vigário. Padre Fabrizio viveu um grande sofrimento nos últimos meses, mas com fé e força interior. Sempre sorrindo, com uma palavra de consolo para os amigos e familiares que estiveram com ele até o último momento. Oferecemos a seguir a carta que ele enviou ao Papa Francisco.

A Sua Santidade o Papa Francisco:

Santo Padre,

nas orações diárias que dirijo a Deus, não deixo de rezar pelo senhor e pelo ministério que Deus lhe confiou, para que Ele possa lhe dar forças e alegria para continuar anunciando a boa nova do Evangelho.

Eu me chamo Fabrizio De Michino e sou um jovem padre da diocese de Nápoles. Tenho 31 anos e há cinco sou sacerdote. Desempenho meu serviço no Seminário Arcebispal de Nápoles como professor de um grupo de diáconos, e em uma paróquia em Ponticelli, que se encontra na periferia de Nápoles. A paróquia, recordando o milagre registrado na colina Esquilino, recebe o nome de Nossa Senhora das Neves.

Ponticelli é um bairro degradado por sua pobreza e alta criminalidade, mas a cada dia descubro verdadeiramente a beleza de ver o que o Senhor realiza nestas pessoas que confiam em Deus e na Virgem.

Também eu, desde que estou nesta paróquia, pude ampliar cada vez mais meu amor pela Mãe Celeste, experimentando também nas dificuldades a sua proximidade e proteção. Infelizmente, há três anos eu luto contra uma doença rara: um tumor no interior do coração. Há um mês estou com metástase no fígado e no baço. Nesses anos difíceis, no entanto, nunca perdi a alegria de ser anunciador do Evangelho. Também no cansaço eu percebo, verdadeiramente, esta força que não vem de mim, mas de Deus, que me permite desempenhar com simplicidade o meu ministério. Há uma citação bíblica que tem me acompanhado e me enche de confiança na força do Senhor: “Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (Ez 36, 26).

Neste tempo tem sido muito próxima a presença do meu bispo, o cardeal Crescenzio Sepe, que me apoia constantemente, ainda que às vezes me peça para descansar, para que eu não me sobrecarregue.

Agradeço a Deus também por meus familiares e meus amigos sacerdotes que me ajudam e apoiam, sobretudo quando faço as diferentes terapias, compartilhando comigo os momentos de inevitável sofrimento. Também os meus médicos me apoiam muito e fazem o impossível para encontrar os tratamentos adequados para mim.

Santo Padre,

estou me alongando muito, mas só quero dizer que ofereço a Deus tudo isso, pelo bem da Igreja e pelo senhor de um modo especial, para que Deus o abençoe sempre e o acompanhe neste ministério de serviço e amor.

Eu lhe rogo que reze por mim: o que peço todos os dias ao Senhor é que seja feita a Sua vontade, sempre e em todas as partes. Não peço a Deus a minha cura, mas a força e a alegria de continuar sendo um verdadeiro testemunho de Seu amor e um sacerdote segundo o Seu coração.

Seguro de suas orações paternas, o saúdo devotamente.

Padre Fabrizio De Michino
sources: Aleteia

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

             Em cada Ave Maria, uma flor para Maria




O Frei Afonso Rodriguez , da Companhia de Jesus , recitava seu Rosário com tanto ardor,  que muitas vezes via, em cada Pai Nosso, sair de seus lábios, uma rosa vermelha e, a cada Ave Maria, uma rosa branca, igual à vermelha, em beleza e em delicioso aroma. Somente as cores eram diferentes.

As crônicas de São Francisco contam que um jovem religioso tinha o louvável hábito de rezar, todos os dias, antes das refeições, a Coroa da Santíssima Virgem. Um dia, não sei por que motivo, ele deixou de rezá-la; tendo soado a sineta que chamava para o jantar, ele rogou a seu superior que lhe permitisse recitar a coroa da Santíssima Virgem, antes de se dirigir até a mesa.

Com essa permissão, Frei  Afonso retirou-se para o seu quarto, mas como estava demorando muito, o superior enviou um religioso para chamá-lo. Este o encontrou no quarto, resplandecente, envolto por uma luz celestial, diante da Santíssima Virgem e de dois anjos; à medida que ele recitava uma Ave Maria, uma linda rosa saía de seus lábios, e os dois anjos iam colhendo as  rosas, uma após outra, e colocando-as sobre a cabeça da Santíssima Virgem, que tudo testemunhava, com prazer.


São Luís Maria Grignion de Montfort
Em O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário para se converter e se salvar, § 25