sexta-feira, 11 de outubro de 2013

EN CERTO SENTIDO A GRAÇA É INFINITA

(continuação de trechos  de  Matthias Joseph Scheeben :retiradas  do seu magnífico livro intitulado                                                          "As Maravilhas da Graça Divina")


     

      A nova natureza conferida pela graça possui o privilégio único de ser, de certo modo, infinita, como participação que é da natureza infinita de Deus.

            Todas as outras naturezas, já o dissemos, são como que refrações da luz divina; a graça, ao contrário, é um raio puro e íntegro, que tira a alma de seu âmbito natural e de seu meio para lhe permitir a visão de Deus em sua essência infinita. Não se lhe concede tal possibilidade, a não ser possuindo ela alguma coisa do poder infinito de Deus. Assim sendo, seu valor iguala, de certo modo, ao bem infinito por ela conferido.

            As criaturas guardam sem exceção, em sua perfeição, um limite que não podem ultrapassar. Mesmo quando livres de toda impureza, lhes é impossível progredir aperfeiçoando-se cada vez mais. Cada planta alcança uma determinada altura, onde se detém. Crescem os diversos animais até que se lhes desenvolva o corpo e se forme seu organismo; uma vez atingido este termo, é-lhe impossível seguir adiante; quando viverem o tempo próprio, começa sua decadência, sobrevindo a morte. As próprias criaturas racionais têm, segundo sua natureza, um limite na linha da perfeição: progridem enquanto se desenvolvem suas forças naturais; como são estas limitadas, também se lhes deterá o desenvolvimento em um ponto determinado.

           Somente a graça desconhece fronteiras. Raio da natureza divina caindo sobre nossa alma, não conhece outra medida e limitação senão a infinidade de Deus; pode, portanto, crescer dia a dia, a cada instante, e enriquecer-se sem cessar; nunca ultrapassará seus limites, pois não os têm. Será sempre graça a participação da natureza divina. Torna-se cada vez mais o que é e o que deve ser.

             Que será capaz de impor limites ao amor sobrenatural? - pergunta o Anjo da Escola (S. Tomás, II-II, q 24, a.7). O mesmo se dá com a graça que cresce com ele. Tem ela origem no poder eterno e infinito de Deus e é precisamente uma participação da infinita santidade de Deus. Se guarda o vaso de nossa natureza uma capacidade limitada, uma vez elevada acima de sua condição, aumenta infinitamente esta capacidade. Toda  medida de graça recebida o torna apto para uma medida ulterior ainda maior; todo aumento prepara um novo aumento: quanto mais sobe, mais suscetível de torna de continuar crescendo.

             Em si, um aumento de graça é infinitamente precioso, um tesouro preferível a todos os tesouros da terra. Devemos, com o Apóstolo considerar como perda todas as coisas, contando que consigamos Cristo e sua graça. A preciosidade de um semelhante tesouro baseia-se em ser ele um capital que cresce e se multiplica ao infinito. Isso exige, porem, nossa colaboração. Uma ação sobrenatural qualquer, realizada em estado de graça, e toda utilização da graça já possuída, sobretudo quando  a fazemos frutificar, fazem-nos diante de Deus credores de um aumento de nosso tesouro. De nós depende pois duplicá-lo em pouco tempo. Na proporção em que aumenta a graça, cresce também  e multiplica-se nosso capital.

              Esforça-se excessivamente o mundo, ou como diz ele, especula tenazmente, para conseguir o dinheiro, de modo seguro e estável. Fica alguém, por vezes, estupefato ao encontrar-se com homens, tornados, da noite  para o dia, mais ricos que um monarca! Perecíveis tesouros que não podem fazer feliz seus possuidores, e que pode uma fagulha destruir como se foram papeis! E não obstante são os filhos do mundo mais hábeis para seus negócios que os filhos de Deus! Que vergonha! Poderiam estes ganhar, com a mesma facilidade, tesouros eternos, obrigações que, de reembolsá-las se encarregaria, não um agente de cambio, nem mesmo um soberano, e, sim, o próprio Deus, que se preocupa em nos recompensar os esforços, com a plenitude de sua glória e de sua felicidade.

                 .... Se com tanto ardor tendêssemos para os bens da graça, tornar-nos-íamos verdadeiramente ricos. Eis por que nossa lentidão não admite escusas. Será que tememos, à semelhança do avarento , nos fazer infelizes por um desregrado afoitamento? Torna a cobiça infeliz, porque não goza ele do que adquiriu, e tem, afinal, que perder tudo. Pelo contrário, o santo desejo da graça leva-nos ao eterno repouso em Deus; nele nos saciaremos, na medida em que o houvemos desejado. Nada nos impede regozijarmo-nos com o possuído; crescerá nosso desejo à medida que vamos experimentando estarmos servindo a um Senhor tão bom.

 (continua...)

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