A GRAÇA E A DIGNIDADE DA MÃE DE DEUS
(continuação de trechos de Matthias Joseph Scheeben :retiradas do seu magnífico livro intitulado "As Maravilhas da Graça Divina")
Tendo dado ao filho de Deus sua natureza humana, mais que nenhuma outra criatura tem ela o direito de participar, pela graça, da natureza divina de seu Filho. Durante nove meses forma, por assim dizer, com o Filho concebido em seu seio, uma só pessoa; são idênticos seus direitos, seus bens, sua santidade. Maria é a mulher contemplada por S. João no Apocalipse, não apenas recebendo a luz do sol, mas ainda revestida do próprio sol.
Tendo dado ao filho de Deus sua natureza humana, mais que nenhuma outra criatura tem ela o direito de participar, pela graça, da natureza divina de seu Filho. Durante nove meses forma, por assim dizer, com o Filho concebido em seu seio, uma só pessoa; são idênticos seus direitos, seus bens, sua santidade. Maria é a mulher contemplada por S. João no Apocalipse, não apenas recebendo a luz do sol, mas ainda revestida do próprio sol.
A graça que lhe enche a alma tem, sobre todas as criaturas, a prerrogativa única de lhe ser concedido por um privilégio especialíssimo. Semelhantemente a seu Filho possui a graça sob um aspeto tão necessário que dela não pode estar privada; teme-na em tal abundância e plenitude que todos nós dela podemos receber. Foi seu Filho chamado cheio de graça e de verdade; e também ela foi denominada, pelo anjo, cheia de graça (Lc 1. 28). Seu filho é por natureza o Filho Unigénito do Pai; ela é sua filha bem-amada.
Se considerarmos a dignidade de Maria, vendo como nela a maternidade divina se une à graça e a graça à maternidade, concluiremos ser impossível comparar nossa dignidade com a dela. Se, porem, esquecermos por um instante estarem unidos estes dois privilégios, e considerarmos unicamente a maternidade em si, sem relacioná-la com a graça, podemos afirmar, sem receio de injuriar a Mãe de Deus, ser a graça um bem maior que lhe confere uma dignidade superior à que encerra a maternidade divina.
Mãe de Deus segundo a carne, Maria supera infinitamente a toda criatura. Tem o direito de ser amada e respeitada por seu Filho, venerada pelos anjos, servida pelos homens; tudo lhe está submisso. Preferiria ela, porem, privar-se de tudo isto, com prazer sacrificaria as honras da maternidade, antes que perder a graça. Quereria antes ser, pela graça, filha de Deus, que mãe de Deus por natureza, pois sabe perfeitamente que Jesus, embora a ame com amor incomparável, contudo amaria mais a outra alma, se a encontrasse mais rica em graça.
Foi o que quis Nosso Senhor dizer quando lhe anunciaram a chegada de sua mãe e seus parentes. Saíram-lhe dos lábios, nessa ocasião, estas assombrosas palavras: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E apontando a seus discípulos: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Em outra ocasião, como uma mulher do povo louvasse a Mãe com estas palavras: Bem-aventurado o seio que te trouxe e os peitos que te amamentaram, deu ele esta significativa resposta: Antes bem-aventurados os que escutam a palavra de Deus e a praticam.
Por certo não queria N. Senhor renegar sua Mãe ou ofendê-la. Queria simplesmente declarar que nem mesmo Maria podia ser digna dele, se não cumprisse perfeitamente a vontade do Pai celeste, se não escutasse sua palavra e não possuísse, na mesma medida, a graça de Deus. Se, por impossível, ficasse Maria, neste ponto, inferior a outra alma, teria esta a preferência de Jesus.
Com efeito, deu Maria à luz o Salvador, segundo a carne. Por ter em si recebido o Verbo eterno e o haver revestido de forma humana, guardava com ele certo parentesco natural. Quando, porem, recebeu em sua alma a palavra de Deus, concebeu igualmente e deu à luz seu Filho, no próprio espírito, e de certo modo o revestiu do reflexo da natureza divina que pela graça receberá; eis o que lhe originou um parentesco celeste com seu Filho. É este parentesco inseparável do primeiro. Assim, por todo o sempre será verdade o que escrevia S. Agostinho: "Nenhuma vantagem obtivera a Virgem, da maternidade, se não chegara a se considerar mais feliz por trazer a Cristo em seu espírito, do que em sua carne". Não se segue daí não ler a maternidade corporal de Maria valor algum para ela. Seu mais belo privilégio, porem, consiste em ser esta maternidade inseparável da graça, que por outro lado a acompanha necessariamente.
Se a austeridade divina de Maria, sem a graça, lhe fora inútil, de modo que iria ela preferido esta segunda dignidade à primeira, com que então podemos comparar a dignidade da graça divina? Por que queremos parecer grandes aos olhos dos homens e nos despreocupamos de ver inscrito nosso nome no livro da vida? Como podemos gloriar-nos de alguma vantagem corporal sobre o nosso próximo, se pela graça podemos superá-lo. já que N. Senhor em pessoa nos coloca no mesmo plano que sua Mãe?
... Em razão de sua maternidade, Maria devia ser absolutamente pura e santa; nem a sombra do pecado podia dela aproximar-se. Repugna sequer pensarmos pudesse ela ter ofendido ao Filho com a menor falta, e mais ainda com uma ofensa grave. Nossa união com Cristo deve bastar-nos para conhecermos como um mal incomensurável o menor pecado.
Não quero omitir uma ultima consideração, um pensamento consolador. Maria sobrepuja-nos em grandeza por ser Mãe de Deus, mas é também nossa mãe. Como a Mãe de Deus é nossa Mãe? Não segundo a natureza humana, pois não dela, e, sim, de Eva a recebemos. É nossa Mãe por sermos irmãos de seu Filho único, membros vivos de seu corpo; é , portanto, nossa Mãe segundo a graça. Com efeito, na ordem da graça só podemos ter a Deus por Pai; por conseguinte, ninguém, senão a Mãe de Deus, pode ser nossa Mãe.
Sentimos em transportes o nosso coração ao pensarmos que a Rainha do céu e da terra é nossa Mãe. Assiste-nos razão de sobra para lhe agradecermos a herança que por ela nos advém, seu maternal amor, e a imagem que imprime em nossa alma ao fazer-nos semelhantes a si e a seu Filho..
Devemos amar e honrar a nossa Mãe. Com coisa alguma melhor lhe demonstraremos nosso reconhecimento de que com o esforço por preservar e conservar em nós a graça que nos dá por meio de seu Filho. Não nos tornemos indignos de nossa Mãe; não rejeitemos a honra de ser filhos seus, perdendo a graça!
(continua...)
Foi o que quis Nosso Senhor dizer quando lhe anunciaram a chegada de sua mãe e seus parentes. Saíram-lhe dos lábios, nessa ocasião, estas assombrosas palavras: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E apontando a seus discípulos: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Em outra ocasião, como uma mulher do povo louvasse a Mãe com estas palavras: Bem-aventurado o seio que te trouxe e os peitos que te amamentaram, deu ele esta significativa resposta: Antes bem-aventurados os que escutam a palavra de Deus e a praticam.
Por certo não queria N. Senhor renegar sua Mãe ou ofendê-la. Queria simplesmente declarar que nem mesmo Maria podia ser digna dele, se não cumprisse perfeitamente a vontade do Pai celeste, se não escutasse sua palavra e não possuísse, na mesma medida, a graça de Deus. Se, por impossível, ficasse Maria, neste ponto, inferior a outra alma, teria esta a preferência de Jesus.
Com efeito, deu Maria à luz o Salvador, segundo a carne. Por ter em si recebido o Verbo eterno e o haver revestido de forma humana, guardava com ele certo parentesco natural. Quando, porem, recebeu em sua alma a palavra de Deus, concebeu igualmente e deu à luz seu Filho, no próprio espírito, e de certo modo o revestiu do reflexo da natureza divina que pela graça receberá; eis o que lhe originou um parentesco celeste com seu Filho. É este parentesco inseparável do primeiro. Assim, por todo o sempre será verdade o que escrevia S. Agostinho: "Nenhuma vantagem obtivera a Virgem, da maternidade, se não chegara a se considerar mais feliz por trazer a Cristo em seu espírito, do que em sua carne". Não se segue daí não ler a maternidade corporal de Maria valor algum para ela. Seu mais belo privilégio, porem, consiste em ser esta maternidade inseparável da graça, que por outro lado a acompanha necessariamente.
Se a austeridade divina de Maria, sem a graça, lhe fora inútil, de modo que iria ela preferido esta segunda dignidade à primeira, com que então podemos comparar a dignidade da graça divina? Por que queremos parecer grandes aos olhos dos homens e nos despreocupamos de ver inscrito nosso nome no livro da vida? Como podemos gloriar-nos de alguma vantagem corporal sobre o nosso próximo, se pela graça podemos superá-lo. já que N. Senhor em pessoa nos coloca no mesmo plano que sua Mãe?
... Em razão de sua maternidade, Maria devia ser absolutamente pura e santa; nem a sombra do pecado podia dela aproximar-se. Repugna sequer pensarmos pudesse ela ter ofendido ao Filho com a menor falta, e mais ainda com uma ofensa grave. Nossa união com Cristo deve bastar-nos para conhecermos como um mal incomensurável o menor pecado.
Não quero omitir uma ultima consideração, um pensamento consolador. Maria sobrepuja-nos em grandeza por ser Mãe de Deus, mas é também nossa mãe. Como a Mãe de Deus é nossa Mãe? Não segundo a natureza humana, pois não dela, e, sim, de Eva a recebemos. É nossa Mãe por sermos irmãos de seu Filho único, membros vivos de seu corpo; é , portanto, nossa Mãe segundo a graça. Com efeito, na ordem da graça só podemos ter a Deus por Pai; por conseguinte, ninguém, senão a Mãe de Deus, pode ser nossa Mãe.
Sentimos em transportes o nosso coração ao pensarmos que a Rainha do céu e da terra é nossa Mãe. Assiste-nos razão de sobra para lhe agradecermos a herança que por ela nos advém, seu maternal amor, e a imagem que imprime em nossa alma ao fazer-nos semelhantes a si e a seu Filho..
Devemos amar e honrar a nossa Mãe. Com coisa alguma melhor lhe demonstraremos nosso reconhecimento de que com o esforço por preservar e conservar em nós a graça que nos dá por meio de seu Filho. Não nos tornemos indignos de nossa Mãe; não rejeitemos a honra de ser filhos seus, perdendo a graça!
(continua...)
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